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O Paradoxo dos 150 Mil Pontos: B3 Bate Recordes, Mas Perde Empresas

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O mercado de capitais brasileiro vive um paradoxo histórico. Enquanto o Ibovespa rompe a marca simbólica de 150 mil pontos, a B3 assiste a um êxodo silencioso de empresas. Só neste ano, 25 companhias deixaram a bolsa — o maior volume de saídas desde 2017.

A base de empresas listadas encolheu para cerca de 400 empresas ou, considerando apenas o mercado à vista, pouco mais de 350.

Se for contabilizado o período dos últimos dez anos, desde 2016, o número de companhias que saíram chega a quase 200.

O movimento não reflete uma crise do seu principal índice, sustentado por poucas blue chips (ações de grandes empresas) e forte fluxo estrangeiro. É, antes, uma crise estrutural: a perda de atratividade do mercado acionário doméstico, sufocado pelo custo de capital devido aos juros altos e pela engenharia financeira imposta pelo ambiente macroeconômico.

A seguir, entenda os principais motivos que explicam esse aparente paradoxo e por que o movimento não interfere tanto nos negócios da própria B3, que, como empresa, continua lucrando mesmo com a saída de parte de seu principal ativo: as listagens.

A Forbes Brasil ouviu três especialistas: Marcelo Nantes, head de renda variável da ASA Investimentos, Marcos Piellusch, professor da FIA Business School, e Alexandre Albuquerque, analista sênior da Moody’s.

Fuga de empresas da B3

B3

Gabrielli Motta / Forbes Brasil

Dados da B3

1º Motivo – Selic elevada

O consenso entre eles é que o primeiro gatilho para a fuga de empresas é a taxa de juros persistentemente alta. Na última reunião do Copom, realizada no dia 5 deste mês, a taxa Selic foi mantida em 15%.

Como o CDI orbita próximo desse patamar, a renda fixa tornou-se a queridinha do investidor brasileiro por oferecer retorno elevado com risco mínimo e liquidez quase imediata. Esse cenário drena o volume financeiro do mercado acionário e afasta o investidor local, explica Nantes.

2º Motivo – Custo elevado de listagem

Manter uma empresa listada na bolsa é caro. Abrir o capital implica em uma série de obrigações e custos que envolvem auditoria, governança, conselho, equipe de relações com investidores, entre outros. Para empresas de baixa liquidez ou sem necessidade de captação, esse custo fixo torna-se insustentável.

Estima-se que uma empresa listada custe de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões por ano, podendo ser mais, dependendo do porte.

Com a escassez de IPOs desde 2022 e a Selic em 15%, o veículo tornou-se caro para a captação de capital. Muitas empresas optam por fusões, aquisições ou a saída dos mercados públicos em vez de emitir ações a múltiplos deprimidos.

“Em termos simples, uma empresa que abrisse o capital agora obteria um valor baixo para emissão. Então, se uma companhia fecha o capital e recompra as próprias ações, paga menos por elas”, explica Piellusch.

A fraqueza do mercado acionário, por outro lado, é compensada pela força do mercado de dívida, segundo Albuquerque, da Moody’s. Ele destaca que o mercado de capitais tem apresentado uma atividade mais robusta em debêntures e instrumentos de crédito, beneficiando principalmente os grandes bancos.

Em resumo, não falta liquidez no sistema, mas sim apetite por risco.

3º Motivo – Depuração natural do mercado

Outro fator que ajuda a entender o paradoxo dos 150 mil pontos está relacionado ao próprio perfil das companhias que decidiram sair da bolsa. Segundo os especialistas, trata-se de um processo natural de depuração do mercado, no qual empresas que não encontraram o “fit” ideal com o ambiente público voltam a ser privadas.

Nantes, da ASA, chama o movimento de “limpeza”, especialmente entre companhias que abriram capital entre 2020 e 2021, no auge da liquidez global. Muitas não tinham modelos de negócios consolidados, e suas promessas de crescimento não resistiram à alta dos juros.

“O boom de 2020 e 2021 trouxe empresas em diferentes estágios de maturidade. Algumas não entregaram o crescimento esperado e, com a virada do ciclo, sofreram compressão de múltiplos e perda de liquidez, ficando expostas a ofertas públicas de aquisição, fusões ou saídas”, analisa Piellusch, da FIA.

4º Motivo – Casos específicos: GOL, Ambipar e outras

Algumas companhias se destacam entre as que deixaram ou estão prestes a deixar a bolsa.

A Gol, por exemplo, propôs o fechamento de capital no Brasil após o processo de reestruturação (Chapter 11) nos Estados Unidos, em busca de redução de custos e simplificação da estrutura societária.

A Ambipar, em recuperação judicial, não pediu cancelamento de registro, mas foi excluída dos índices e caminha para uma reestruturação. A saída, neste caso, pode ser uma estratégia para reposicionar o negócio.

A ClearSale, listada desde julho de 2021, deixou a B3 após ser incorporada pela Serasa S.A. As ações foram substituídas por pagamento em dinheiro ou BDRs da Experian PLC, controladora da Serasa.

A Eletromídia, que abriu capital em fevereiro de 2021, cancelou o registro após a Globo Comunicação e Participações realizar uma OPA em abril de 2025.

A maior parte das demais companhias que saíram da B3, em sua maioria de pequeno porte, não ofereciam liquidez nem atratividade para o investidor.

E o impacto nas contas da B3?

Apesar das 29 saídas registradas em 2025, o impacto para a B3 é limitado. Embora a listagem de empresas seja um pilar importante, a bolsa opera como um ecossistema diversificado, com receitas em custódia, compensação, derivativos, renda fixa e tecnologia.

Os dados do segundo trimestre de 2025 mostram que a receita da B3 subiu 0,7% em relação ao mesmo período de 2024, alcançando R$ 2,7 bilhões, enquanto o lucro líquido recorrente avançou 4,2%, para R$ 1,3 bilhão.

O volume médio diário de negociação foi de R$ 26,1 bilhões, alta de 9,2%, impulsionada por ações (+6,5%), ETFs (+23%) e BDRs (+73,8%). O Tesouro Direto também cresceu, com aumento de 14,9% no número de investidores e 22,4% no estoque de títulos.

As soluções tecnológicas ofertadas pela bolsa também ganharam destaque. As receitas com soluções para o mercado de capitais somaram R$ 159,8 milhões no segundo trimestre de 2025, alta de 2,5%. Já as soluções analíticas de dados cresceram 1,1%, com avanço de 13,9% em plataformas e dados analíticos.

“As várias linhas de negócio têm ajudado bastante a B3 a manter sua regularidade de performance”, avalia Albuquerque.

Perspectivas

A tendência, segundo Piellusch, é que o movimento de saída continue enquanto o ambiente macroeconômico permanecer restritivo. “Sem crescimento e juros mais baixos, não há janela de IPOs”, reforça Nantes.

Empresas de menor porte e alta regulação devem continuar vulneráveis, e o processo de concentração tende a se aprofundar. A corrida às blue chips deve permanecer.

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